segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

É preferível à dor da purificação do que a dor da condenação.Sede perseverante nas tribulações!




O sofrimento é condição necessária para o conhecimento. Que pode dizer de si ou dos outros quem nunca conheceu a dor? Como diz o Salmista: Responde-me, Senhor, porque tua misericórdia é benevolente! (Sl 69(68),17). Jesus é puro amor e misericórdia, porque, não se prevalecendo da sua natureza divina, deixou-se passar pela cruz, sofrendo dores, difamações, humilhações na sua própria carne.




Mas nem mesmo a sepultura conseguiu reter Jesus em seus braços. Abriu-se para deixá-lo sair e caminhar pelos corações dos homens. Jesus não veio para suprimir o sofrimento, mas enchê-lo de sua presença. Vinde a mim todos vós fatigados e sobrecarregados e eu vos aliviarei (Mt 11,28). Através da dor e do sofrimento, Ele deseja nos purificar e nos esvaziar de nós mesmos, para que possamos nos encher com seu amor e sua misericórdia.



É preferível à dor da purificação do que a dor da condenação. O Senhor querendo purificar uma alma, utiliza vários instrumentos. As provações mesmo sendo amargas e, às vezes, dolorosas, Deus as permite, sendo importante aceitá-las porque nos levam a maturação e crescimento espiritual. Através do sofrimento nos tornamos mais semelhantes ao Salvador, que passou primeiro pela cruz para, em seguida, ressuscitar. Através da cruz, ressuscitamos para uma vida nova. De algumas almas, Ele exige uma grande pureza, sobretudo quando tem grandes projetos para ela. No Sermão da Montanha Jesus diz: “Bem aventurados os puros de coração porque verão a Deus (Mt 5,8)”. Também nos ensina que a purificação deve começar pelo coração do homem (Mc 7,1-23).



Após uma “noite escura” virá a luz do dia com a aurora da alegria. Essa verdade foi revelada várias vezes por Jesus: Eu vim como a luz do mundo para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas (Jo 12,46). Ficareis tristes, mas vossa tristeza se converterá em alegria (Jo 16,20). Vós estais tristes agora, mas eu vos verei outra vez e vosso coração se alegrará e ninguém poderá tirar-vos a alegria (Jo 16,22). No mundo tereis aflições, mas coragem eu venci o mundo (Jo 16,33).



Diante da cruz sempre se descobre que Deus está presente dando tudo: no Corpo e no Sangue, na vida de seu Filho, despojado, sem nada. Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim e eu nele (Jo 6,56). Como o Pai me ama assim também eu vos amo. Permanecei no meu amor (Jo 15,9). O Evangelho é a luz que aponta o caminho que devemos seguir e a Eucaristia é a força que nos permite seguir este caminho. O Evangelho abrasa o nosso coração de fé e a Eucaristia abrasa o nosso coração de amor. O Evangelho transforma o nosso coração, para que Jesus Eucarístico possa habitar neste coração transformado pela Palavra.



Quão estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram (Mt 7,14). A porta de entrada para o Reino do Senhor é a misericórdia, quem não entra por ela não entende nada. Misericórdia é ligar-se com o coração à miséria do próximo: do pecador, do pobre e do excluído. O “próximo” é essa porta pela qual precisamos passar para encontrar e amar a Deus. A mais profunda realização humana brota da alegria de servir. E o primeiro serviço que se deve prestar ao próximo é escutá-lo. Quem não tem condições de ouvir o irmão, acaba não podendo mais ouvir o próprio Deus. A compreensão traz a fortaleza, que alimenta o espírito. Que as nossas mãos que se estendem tantas vezes para receber a Eucaristia estejam sempre estendidas para socorrer os necessitados tanto de bens materiais quanto de apoio espiritual.



Deus não é um ópio que nos atordoa, que nos perturba, que causa desordens em nosso ser. Mas, às vezes, permite que nossa vida seja desordenada para que, após a tempestade, nos dê o seu descanso, a vida plena. A vida torna-se um céu, quando se consegue alegrar-se com as coisas simples de cada dia. E essas verdadeiras alegrias da vida têm raízes profundas em um coração amoroso. Deus não é causa de angústia, mas fonte de eterna paz.



As causas de muitos sofrimentos corporais encontram-se nas profundezas da alma, sem que a pessoa tenha clara consciência disso. Por isso no período de provas, pode haver contínuas recaídas, enquanto a causa de todo o mal não tiver sido removida. Devemos assumir as nossas fraquezas e expô-las ao Senhor para que possa nos curar. Não devemos ter medo ou vergonha de apresentá-las. Quando nos conscientizamos de nossas fragilidades, a força de Cristo habita em nós. Viver a verdade é viver em harmonia consigo mesmo, em harmonia com os outros, com Deus. É viver a unidade do corpo, do pensamento e dos sentimentos. Devemos ser como crianças, que é, por excelência, um espelho de si mesma. Não tem o que ocultar, não tem o que dissimular, não tem porque amenizar as coisas.



A pior prisão é a do coração. As feridas, os traumas do passado e os apegos constituem a algema que prende os seres humanos e não os deixa seguir o caminho da perfeição. Carregamos em nosso coração o peso das situações mal resolvidas; das mágoas, dos rancores que não foram perdoados e isto constitui uma brecha para as trevas penetrarem em áreas do nosso ser e tentarem nos dominar, aproveitando-se da fraqueza humana, procuram escravizar e deprimir progressivamente a pessoa. Contudo, os altos e baixos constantes que nos atormentam, nos levam ao equilíbrio interior e ao auto-domínio. Só o perdão pode encerrar uma determinada situação, tirar dos nossos ombros um grande peso e nos tornar livres. A liberdade é uma riqueza que só valorizamos quando a perdemos. Não há mal que Deus não cure através da oração, e nem mágoa que perdure com um gesto de perdão. Através da fé, esperança, confiança e perseverança se abrem todas as janelas e portas de um coração. Deus é fiel, Ele nunca abandona e jamais trai aqueles que nele esperam e confiam. A esperança não engana, pois o amor de Deus se derramou em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado (Rm 5,5). Quanto mais cresce o sofrimento, mais aumenta a esperança de dias melhores.



Por momentos, sente-se vontade de chorar copiosamente, como se as lágrimas lavassem a alma para a libertação e purificação. Quem confia em Deus pela fé em Jesus Cristo, acredita no amor e acredita no poder das lágrimas. Onde há fé existe amor, onde há amor existe paz, onde há paz ali está Deus e onde Deus está nada falta. Os sofrimentos da vida presente não têm comparação alguma com a glória futura que se manifestará em nós (Rm 8,18).



Nessas circunstâncias, a pessoa fica presa a si mesma sem saber como sair dessa situação. Só quem já passou por grandes tribulações sabe como é pesado e difícil cumprir com nossas obrigações quando a alma se encontra nesse estado de tormentos interiores. Desânimo, estresse e cansaço nos sufocam. As forças físicas diminuem, a mente se obscurece e a pessoa simplesmente passa a descuidar-se de si mesma, de seu físico, de sua aparência, de suas obrigações, de suas atividades, muitos não compreendem essa situação e fazem todo tipo de julgamento, achando que a pessoa é descuidada ou relaxada.



As provas interiores, exteriores tentam nos dominar. Tudo ao nosso redor parece estar de mal a pior e, acabamos nos envolvendo bastante com os problemas que surgem. Situações desagradáveis, sentimentos de perseguições, de desprezo nos circundam, e acabamos ficando presos dando voltas como em círculos em torno de nós mesmos ou de nossos problemas. Não permitamos que as dificuldades ou as “fofoquinhas” arruínem a nossa vida, nos levando ao fundo do poço. Sejamos fortes e saibamos superar os problemas ou os boatos com dignidade.



A vida é curta demais, por isso não devemos fazer dela um campo de batalha contra os nossos irmãos. Com o juízo com que julgardes, sereis também julgados; e com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos (Mt 7,2). A essência do verdadeiro amor está em aceitar os lapsos do outro. A essência de Deus é o Amor e a Vida. Quando falamos mal dos outros estamos alimentando sentimentos de inveja ou ciúmes, que se manifestam em nosso ser de forma consciente ou inconsciente. O ciúme é a arma dos inseguros, dos que ainda não aprenderam verdadeiramente a amar.



A palavra falada é como uma abelha: tem mel e tem ferrão. Que nossas palavras sejam doces como o mel e não ardentes e dolorosas como um ferrão. Que as palavras que saem da nossa boca sejam sempre construtivas. Torna-te modelo para os fiéis no modo de falar e de viver, na caridade, na fé, na castidade (1Tm 4,12). Falar bem dos outros é uma virtude, uma nobreza de caráter. Deve-se elogiar uma pessoa na sua presença apenas parcialmente, mas na sua ausência se deve fazê-lo plenamente.



No mundo de hoje, precisamos mais do que nunca reavaliar a nossa capacidade de amar. Nunca o mundo comportou tanta depressão, tanta angústia, como nos dias atuais. Quando amamos nos encontramos. Tudo é feito para se completar, para estar junto, para conviver. Nada é feito para estar só. Quem pensa somente em si, acaba ficando sozinho, sem amizades. No egoísmo, nos distanciamos do ideal para o qual fomos criados. No coração do homem existe uma profunda sede de amar e ser amado.



Nas turbulências da vida, não se deve caminhar sozinho, pois há muitos outros peregrinos em busca da mesma meta. Caminhar sozinho não é caminhar é desandar. Não se vive bem, não se vive feliz quando nos isolamos e evitamos os relacionamentos. Somos feitos para o encontro. A amizade é uma necessidade do coração humano. O amigo verdadeiro é aquele que ama e compreende o outro, sobretudo, nos momentos de dificuldade. Para vivermos essa experiência, precisamos nos deixar amadurecer mais pelo amor doado do que pelo recebido. Deus, modelo perfeito de amizade, diz em sua Palavra que há mais felicidade em dar do que em receber (At 20,35).



O Senhor repreende e educa aqueles que ama. Está sempre a bater a porta de nosso coração (Ap 3,19-20) e adiamos as coisas de Deus para amanhã, privando-as assim de toda eficácia, porque queremos fazer em primeiro lugar a nossa vontade. Ele na sua infinita misericórdia faz tudo ao seu tempo. Quando essa força superior interfere em nossa vida, quer nos mostrar que esse é o tempo favorável, não dá mais para adiar a nossa conversão, quer o nosso “sim” para que sendo fiel no mínimo possa nos confiar o máximo. Deseja um maior compromisso de nossa parte, talvez querendo curar de infidelidades, tibieza na caminhada espiritual e/ou nos elevar para um plano espiritual superior.



O ser humano não nasce pronto, nasce inacabado. Se investirmos em nosso eu interior, em nossa alma, poderemos ser seres humanos plenos. O sinal de que a nossa experiência de Luz é verdadeira, é quando ela nos permite descobrir nossa sombra. Cada situação de sombra em nosso ser, esconde uma chama divina. Através do sofrimento, Deus quer sempre nos mostrar algo, que ainda precisamos enxergar e, assim, vamos amadurecendo, nos conhecendo melhor e trilhando o caminho da perfeição, da santidade. É sinal de maturidade humana aceitar o desafio do sofrimento.



Quando se sente que o sofrimento ultrapassa as nossas forças humanas, só Deus poderá verdadeiramente nos conformar e nos aquietar. Devemos recorrer a Ele através da oração pessoal ou recebendo orações de outros irmãos, sobretudo, de ministros de cura. Se possível, procuremos permanecer em adoração ao Santíssimo Sacramento durante o tempo que for necessário para que o nosso ser seja pacificado e para nos enchermos com o seu amor.



A oração é a melhor auto-medicação para as nossas angústias e sofrimentos. Sem oração, é fácil escorregar e cair. A oração é a quietude, onde se encontra a luz, o amor e a realização maior. Aprender a orar ou orar melhor, consiste, fundamentalmente, em redescobrir o caminho que leva ao coração. A oração nos eleva a grande dignidade de conversar com o nosso Rei. Cristo é nosso Rei e nós seus súditos. Como súditos lutamos em favor do Rei. A vida de um cristão é uma luta contínua em favor do amor e do bem, a fim de combater as forças do mal e do ódio.



Devemos orar sobretudo por aqueles que nos incomodam ou que não conseguimos perdoá-los verdadeiramente. Também pedir a cura de traumas ou feridas profundas que estão enterrados no nosso coração e que passam a nos atormentar no período de tribulações. Segundo Frei Patrício Sciadini: “Através da oração, Deus vem à nossa procura no nosso esconderijo de pecado e de dor, para reiniciar conosco um diálogo que nós mesmos interrompemos”.



Oração e tribulação são ações quase antagônicas e, portanto, se manifestam de formas diferentes, enquanto a primeira nos conduz a paz, fraternidade e serenidade, a última, nos leva a inquietação, irritação, por vezes, egocentrismo, murmuração e dureza de coração, pois a palavra tribulação vem de tribologia que significa o estudo dos atritos. No entanto, como diz o Santo Padre, o sofrimento adquire um sentido misteriosamente positivo quando é vivido à luz dos planos de Deus.




Nessa perspectiva, no livro de Tobias, essa mensagem é clara: “Todo aquele que vos honra tem a certeza de que sua vida, se for provada, será coroada; que depois da tribulação haverá a libertação... Após a tempestade, mandais a bonança; depois das lágrimas, derramais a alegria” (Tb 3,21-22).



O sofrimento prolongado nos causa mais angústia, pelo fato de acharmos que nossas orações não são agradáveis a Deus. Quando recebemos orações e libertações até parece que tudo volta ao normal, contudo, de repente os bombardeios interiores recidivam, às vezes, com maior intensidade. Como diz São Paulo: faz-se não o bem que quer, mas o mal que não quer. Nas tréguas, procura-se reconciliar com Deus e com os irmãos para reparar os estragos causados em nossa alma. Essas recaídas tendem a ocorrer, enquanto a raiz de todo o mal não tiver sido removida.



Em alguns momentos, o desespero quer tomar conta de nosso ser, porque mesmo procurando permanecer com Deus, parece que estamos provocando uma ira ainda maior dEle contra nós. Achamos que Deus não escuta as nossas orações, que estamos sendo rejeitados ou abandonados por Ele. Contudo é exatamente nos momentos mais difíceis, que o Senhor está mais presente em nossa vida, vem nos confortar, pedindo paciência, humildade e mansidão, visto que irá atender as nossas súplicas no tempo certo. Na maioria das vezes, não sabemos esperar as demoras do Senhor.



O Senhor nos pede paciência e perseverança nos períodos turbulentos. Através de Sua Palavra, nos exorta: Endireita o coração e sê constante; não tenhas pressa no momento da adversidade (Eclo 2,2). E Deus não fará justiça aos eleitos que clamam por Ele dia e noite, mesmo quando os fizer esperar? (Lc 18,7). Pela paciência salvareis vossas vidas (Lc 21,19). Não vamos nos intimidar com as adversidades da vida, mas nos comprometer com a transformação do mundo, ser vigilantes na oração, enquanto aguardamos uma vida nova e diferente.



Assim como as provações tendem a surgir gradativamente, as graças também tendem a acontecer paulatinamente nos anos subseqüentes às provações. As pessoas não suportariam muitas tribulações ou muitas graças de uma só vez. Após um período de provações, podemos renascer, sarar de todas as feridas, mesmo as mais profundas. Tomemos consciência de que a paz interior se consegue com o cultivo do amor e da paz nas relações humanas. O pecado já não vos dominará porque agora não estais sob a Lei e sim sob a graça (Rm 6,14). Dessa forma, o céu poderá começar aqui na terra.



Seria inútil ganharmos o mundo com nossas próprias forças se viermos perder a Deus. No entanto, somos privilegiados porque o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido (Lc 19,10). Ele nos ama e é capaz de nos fazer santos. A santidade não é um alvo impossível. Precisamos continuamente suplicar a Luz de Deus: “Espírito Santo, tu és meu consolo, arranca-me das trevas, as trevas que são o pecado, que é o olhar tanto para mim e tão pouco para ti e para meus irmãos. Que eu possa contemplar a tua beleza, a tua pureza, a tua santidade naqueles que são criados à tua imagem e semelhança”.



Renovemos a nossa fé, ergamos nossos braços e agradeçamos ao Criador o Dom da nossa existência, porque nada foi criado em vão, muito menos a nossa vida. Às vezes, Ele nos fere com seu amor, porque caminha conosco em cada degrau de nossa vida e não somente no alto da escada.




Fonte: Comunidade Shalom




Sede perseverante nas tribulações!

2003-10-25 15:13:00




- Regina Fátima Gonçalves Feitosa







domingo, 12 de fevereiro de 2012

Homilia do Cardeal Stanislaw Rylko no Congresso das Novas Comunidades

O Cardeal, enfatisa bastante sobre São Francisco de Assis. Um revolucionário da sua época, até nossos dias.



shalom
- No trecho do Evangelho (Lucas 6,12-19), São Lucas nos lembra o momento exato do chamado dos apóstolos. Foi um dos momentos decisivos da Igreja nascente. Jesus foi ao monte rezar; quando amanheceu, chamou seus discípulos e escolheu doze daqueles, aos quais deu o nome de apóstolos.





Em (Efésios 2,19-22), São Paulo nos introduz no coração do mistério da Igreja, que é mistério de comunhão missionária. Ele escreve: "Irmãos, vocês não são mais estrangeiros nem hóspedes, mas são concidadão dos santos, família de Deus, edificados sobre os fundamentos dos apóstolos e dos profetas, tendo como pedra angular, o próprio Jesus Cristo.



Querido irmãos e irmãs, essa é a nossa mais profunda identidade. Somos concidadãos dos santos, somos familiares de Deus, fomos edificados sobre o fundamento dos apóstolos, a fé deles e o testemunhos deles até a efusão do sangue. Cristo é a pedra angular deste fundamento. Cristo, pedra angular, portanto, o cento da vida da Igreja e da sua missão. Cristo é o centro da vida do cristão.



Paulo nos explica este mistério quando, dirigindo-se aos Efésios, escreve: "Em Cristo, toda construção, ou seja, Igreja, cresce bem ordenada para ser templo santo no Senhor. Em Cristo, também vós sois edificados juntos para se tornar habitação de Deus por meio do espírito. Se acrescenta, assim, outro elemento da nossa identidade mais profunda: templo santo do Senhor, habitação de Deus por meio do Espírito Santo. É por isso que, como nos recorda o Santo Padre Bento XVI, o início do ser cristão não é uma decisão ou uma grande ideia, mas um encontro, um acontecimento com uma pessoa que dá à vida um novo horizonte, e com isso a direção decisiva.



Vocês que estão aqui presentes, que são membros das várias comunidades e movimentos carismáticos católicos espalhados pelo mundo, entendem muito bem o que quer dizer encontrar Cristo verdadeiramente, abrir diante dEle todas as portas, até mesmo as mais profundas, que normalmente, diante dos outros, não se abrem. Mas para Ele sim.



No relato do Evangelho de Lucas, a eleição dos apóstolos segue ao encontro de Jesus como uma multidão de gente que O procura. Escreve o evangelista que havia uma grande multidão que veio para escutá-lo e para ser curada de suas doenças. Toda multidão queria tocá-Lo, porque dEle saia uma força que curava a todos. Isso quer dizer encontrar Cristo, tocá-Lo. Quantas maneiras existem em nossa vida de tocar Cristo, tocar em sua Palavra, tocar no tempo passado diante do Santíssimo Sacramento, do silêncio, e deixar-se tocar por Ele; isso é ainda mais fundamental. E quando Ele nos toca, nos muda profundamente. Aqui está o mistério da conversão.



Hoje de manhã, nós dissemos que na vida, cada pessoa que pertence a uma comunidade, pertence a uma nova comunidade, sempre tem um antes e um depois. "Antes eu era assim, mas o Senhor me tocou e me mudou; abriu o mundo diante dos meus olhos." Toda multidão buscava tocá-lo.



Cristo coloca os apóstolos diante de uma multidão necessitada; eles tinham fome da Palavra, queriam escutá-Lo. As pessoas necessitadas de serem curadas do corpo, mas, ainda mais, tocadas no espírito. A esta gente os apóstolos foram enviados. A missão deles é anunciar uma palavra que cura e salva. Como naquela época, também hoje permanece mais do que antes, que espera, aguarda pela salvação. Por causa de uma secularização galopante, até mesmo os países de antiga tradição cristã hoje estão se tornando verdadeiros países de missão, ou seja, países de primeiro anúncio.



Nos estamos falando da nova evangelização, mas, hoje, na nossa velha Europa, há tantos ambientes nos quais Cristo precisa ser anunciado pela primeira vez. Isso pode parecer inacreditável, mas nenhum cristão pode negar essa tarefa, esse dever. Deve exclamar junto com Paulo: "Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho". O próprio neste contexto se insere de maneira organizada o discurso desses movimentos eclesiais e das novas comunidades.
O servo de Deus, João Paulo II, via nelas um novo espírito, um sinal de esperança para a Igreja e para a humanidade inteira. O sinal de uma nova primavera cristã, de uma nova época missionária da Igreja. Em continuidade, o seu sucessor, Bento XVI, explica que os movimentos constituem uma constante na vida da Igreja, e são uma resposta tempestiva que o Espírito Santo diante das atuais desafios da missão evangelizadora da Igreja. Não são frutos de projetos humanos. Com certeza não são! Mas um dom que vem do alto. Assim como diz o Santo Padre, as permanentes irrupções na vida da Igreja.



O que são mais precisamente os movimentos eclesiais? Gerados pelos respectivos carismas, são, antes de tudo, lugares de encontro pessoal com Cristo, que muda a vida das pessoas. Lugar onde não só se fala de Cristo, mas onde se pode ver e tocá-Lo, experimentar a força que sai dEle e cura a todos. Os movimentos eclesiais e as novas comunidades são verdadeiros laboratórios da fé; espaços onde as pessoas são preparadas para uma fé adulta, uma fé viva, uma fé plena de alegria, como vocês estão demostrando, nessa Eucaristia, mediante o canto de vocês.
Quantas mudanças de vida, quantas conversões de homens, mulheres, adultos, jovens! Quantas descobertas essenciais e decisivas para a vida! A descoberta da beleza de ser discípulo de Cristo, a descoberta da fé cristã como projeto positivo e fascinante. Por isso vale a pena entregarmos a nossa vida à descoberta de que vale a pena ser cristão.



Em nossa época, onde somos expectadores de um Cristianismo cansado e desanimado, o Espírito Santo nos surpreende novamente nesses focos de fé e alegria, cheio de entusiasmo. Os movimentos eclesiais e as novas comunidades também são lugares de liderar tantos leigos, homens e mulheres de nosso tempo, com extraordinário deslanche missionário de um Cristianismo fechado em si mesmo, medroso diante do mundo.
Esses respondem com maravilhosa coragem, com uma grande criatividade missionária, sem medo de anunciar Cristo e aqueles que buscam caminhos novos para levar o Evangelho aos meios de comunicação, da cultura, da economia, da política. Estamos vendo aqui essas câmeras que estão transmitindo, ao vivo, o nosso encontro, a nossa Eucaristia, para um outro continente, para o Brasil, através da internet em todo o mundo. Esse é o exemplo da criatividade missionária das novas comunidades, que tornam a Palavra de Deus presente na mídia, que hoje é poderosa. Portanto, como não agradecer o Espírito Santo por esses dons preciosos. Cada dom para nós pastores se traduz também numa tarefa de grande responsabilidade; é preciso acolhê-lo, acompanhá-lo pastoralmente, respeitando cada carisma específico.



O Papa Bento XVI, por várias vezes, solicitou aos pastores que sigam ao encontro dos movimentos com muito amor. E último pensamento, ligado ao lugar onde estamos - Assis -, o discurso sobre esses movimentos adquire um significado especial na cidade de São Francisco. Por isso somos muito gratos ao arcebispo de Assis pela sua presença, porque vemos o papel do caminho de São Francisco, que realizou naquele tempo.
Ele poderia ter fechado tudo, mas soube ler este sinal, esta linguagem do Espírito Santo que falava através de Francisco. Assim, na Igreja entrou uma nova primavera, uma nova força do Espírito Santo. Por que em Assim? O discurso sobre os movimentos se tona mais significativo em outro lugar? Segundo o Santo Padre, Bento XVI, o franciscanismo e sua primeira fase representa um paradigma perfeito naquilo que quer dizer o movimento eclesial. Olhando para o franciscanismo em sua primeira fase, podemos entender melhor o que quer dizer também hoje o movimento eclesial, uma nova comunidade.



Nos tempos de São Francisco, a Igreja atravessava uma crise profunda, e precisava renovar-se carismaticamente por dentro, como escreve o Papa. Precisava reavivar a chama da fé, não somente as capacidades e estratégias administrativas e políticas. O Papa Inocêncio III entendeu rapidamente esse importante sinal de Francisco, intuiu que se tratava de uma força carismática inovação. A história do franciscanismo se manisfesta de maneira quase palpável entre carisma e instituição na Igreja.
O Papa Bento XVI escreve a propósito: Francisco poderia até mesmo ir até o Papa, muitos grupos e movimentos religiosos estavam se formando naquela época, e muitos deles se colocavam contra a Igreja enquanto instituição. Mas São Francisco pensou rapidamente em colocar o seu caminho e de seus companheiros nas mãos do bispo de Roma, o sucessor de Pedro. E disse o Papa: este fato revela o seu autêntico espírito eclesial. O Papa reconheceu isso e apreciou.



É preciso pensar que Francisco não pensava em fundar uma ordem, para ele bastava o monarquismo que já existia. Nessa situação em que o cristão se encontrava pesado, fraco, completamente sufocado, Francisco queria simplesmente anunciar o Evangelho e reunir o povo. De tudo isso, surgiu, quase contra sua vontade, esse movimento, que, enfim, assumiu. Também neste caso, contra sua vontade, a confirmação jurídica da ordem.



Queridos amigos, Francisco queria simplesmente escolheu o Evangelho como uma regra de vida. Ele não queria fazer mais do que anunciar o Evangelho. Quando vocês se lembram da origem da comunidade de vocês, não foi também deste jeito? Quando se pergunta ao fundadores dos vários movimentos e das várias comunidades, se desde o início queriam criar um movimento, todos negam. Eles simplesmente queriam viver e anunciar o Evangelho, nada mais do que isso.



Escreve o Papa: "Hoje, a Igreja continua a esperar que lá, onde tende a afogar-se, a cair na rotina, onde possa naufragar, ali, o Espírito Santo faça germinar de dentro um novo início que ninguém tenha planejado, mas favorecido por homens que iluminados pela graça, façam frutificar o Evangelho. Francisco foi um destes.



Deixemos-nos todos entrar profundamente neste espírito de Assis. Nesta cidade, onde cada pedra recorda o pobrezinho, é com certeza mais fácil sintonizarmos com aquilo que o Espírito Santo diz à Igreja dos nosso tempos: diante desses novos dons carismáticos, somente o Espírito Santo nos permite entender plenamente a vocação e a missão dos movimentos eclesiais e das novas comunidades hoje. Nesta Eucaristia, rezemos, portanto, para que São Francisco nos ensine a amar e servir a Igreja como ele sempre a amou e serviu. Amém.


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por

http://www.cleofas.com.br

Se o amor de Deus é um fogo, o zelo é a sua chama. Se Deus é sol, o zelo é o raio. Zelo é capacidade de dedicação total à causa do Evangelho de Jesus Cristo”.

(...)

São as principais armas de um Carisma:



• Um caminho de santidade, ao afastar-nos das coisas da terra e nos encher o amor de Deus.


• “Consiste em fazer todas as coisas por amor a Deus e Ter por fim único, em todas as coisas, a sua glória”. é evitar qualquer rodeio, hipocrisia, aparência, ostentação e artifício que visa desviar-nos de Deus e do amor ao próximo. No modo de ser, no modo de falar e pregar, a simplicidade nos aproxima dos pobres e nos coloca dentro do verdadeiro espírito evangélico.


Hoje, a simplicidade é sobretudo a autenticidade no ser e agir, buscando a verdade, evitando máscaras, artifícios e ostentações que nos afastam do serviço gratuito aos pobres.


• é a aniquilação pessoal a fim de que apenas Deus reine no coração humano, é renúncia à honra, à glória, é evitar toda vaidade. é esvaziar-se de si mesmo, eliminando o orgulho e a falsidade.


Hoje, entendemos a humildade não como ingenuidade, deixar-se passivamente ser maltratado, mas abertura de coração a Deus, reconhecendo nele o Senhor de nossa vida e superando todo sentimento e atitude de auto-suficiência e prepotência.


Controlar todo sentimento de cólera, ter grande afabilidade, cordialidade e serenidade no tratamento com os outros, sobretudo com os pobres. Na missão, a mansidão é indispensável para enfrentar as dificuldades e tratar bem os pobres.


Hoje, podemos entender a mansidão a capacidade de manter a ternura na luta, canalizar todos os sentimentos de ira e cólera no serviço e amor ao outro. é ter o coração humano, capaz de ser solidário e amável com os outros, sobretudo os sofredores.


“A simplicidade concerne a Deus. A Segunda é a humildade que se refere à nossa submissão... A terceira é a doçura para suportar nosso próximo em seus defeitos. Mas o meio de se possuir essas virtudes é a mortificação, que corta tudo quanto pode impedir-nos de adquiri-las”. é a capacidade de tomar a cruz e seguir a Cristo, é o senso de sacrifício, de privação e de renúncia por causa do Reino de Deus e do Evangelho. é a capacidade de ser generoso a ponto de aceitar o sofrimento e perseguição por Cristo.


Hoje, a  mortificação é a capacidade de concentrar-se para optar em radicalidade por Cristo e seu Reino de Justiça. é a capacidade de determinação, resistência e de disciplina para bem seguir e servir a Cristo e à sua obra de evangelização.


• Zelo ( Como Saulo de Tarso nós diz em Fil 3,6 : “Um puro desejo de tornar-se agradável a Deus e útil ao próximo. Zelo para estender o império de Deus, zelo para trabalhar na salvação do próximo... Se o amor de Deus é um fogo, o zelo é a sua chama. Se Deus é sol, o zelo é o raio. Zelo é capacidade de dedicação total à causa do Evangelho de Jesus Cristo”.


Hoje, entendemos o zelo como a capacidade de “ter garra” para anunciar o evangelho e servir os pobres. é a dedicação generosa, atuante, criativa e responsável para ir ao encontro das necessidades do próximo, ultrapassando fronteiras elevar o Evangelho. é a alegria irradiante e corajosa de servir e trabalhar firmemente pela causa do Reino.


Tudo fazer para não macular o Carisma , para não ferir o Carisma. Pois este é Sagrado .


Junto a essas virtudes, somos estimulados a práticas de exercícios de piedade.


Nada de especial, propõe as práticas comuns da Igreja: oração intensa, meditação da Palavra de Deus, vivência sacramental (ênfase no compromisso batismal, no amor à Eucaristia), devoção à Maria, retiro espiritual anual...


Em tudo isso, uma grande novidade: a prática destes meios espirituais devem estar vinculados, comprometidos e articulados com a Espiritualidade do Carisma e com o seu cunho profético no seguimento a Cristo evangelizador dos pobres.


Fonte: http://www.alphaeomega.org.br/

sábado, 11 de fevereiro de 2012

/ Moções Proféticas / Sobre o silêncio/“Grupo de Oração, Tesouro de Deus”





O Senhor nos suscitou as seguintes palavras de exortação e sabedoria: “Prudência. Cautela. Não joeires aos quatro ventos, não te apresses em dar tua opinião sobre tudo. Verás o peso que sairá de tuas costas se não ficares preocupado em fazer os outros saberem de tua opinião.


Guarda-a para ti e só fala quando te perguntarem. Assim agirás como um ato de obediência a Mim, porque estou te pedindo. No teu silêncio Eu estarei agindo, iluminando teu entendimento. Te surpreenderás,  também, de como teu entendimento será depurado, refinado através da escuta dos outros.


Quanto mais te exercitares na escuta e no silêncio, mais percepção terás das nuances de intenção dos outros e, sobretudo, uma maior clareza do certo e do errado. Não quero, absolutamente, que te afastes da verdade.  Considera que os outros  também podem ter algo importante para dizer e que talvez o que eles dirão está mais próximo da verdade do que pensas.


Honra os outros no teu coração e nos teus pensamentos. Eu honro todos os meus filhos e dou  importância  a cada um, de modo pessoal. Te alerto para algo importante: Ao falar quererás agradar a mim ou aos outros?


Concordarás com os outros só para conquistar sua estima ou é o meu apreço que procuras? Não te apresses em aderir ao pensamento dos outros e às suas opiniões. Submete a mim o julgamento e Eu te darei o discernimento. O teu  silêncio será uma espera na Minha presença até que Eu me manifeste. Então poderás falar.”.


Certa vez, num Encontro Nacional de Pregadores, em Aparecida/SP, Dom Alberto Taveira, que era o pregador oficial, nos ensinou como agir quando estamos conversando com os outros. Dizia ele, mais ou menos nessas palavras: “Quando o outro fala, aja como se ele fosse o pai e você o filho.


Escute com respeito até que ele diga o que tem a dizer. Então, você poderá falar e falará como um pai e ele será o filho. Quando o pai e o filho estão presentes, temos aí a presença do Espírito Santo e o amor da Santíssima Trindade”.


O que Dom Alberto queria ilustrar é mais ou menos o teor da palavra de sabedoria acima, que devemos acolher o que os outros têm para nos dizer com respeito, sabendo calar até chegar o momento certo de nos manifestar e que se assim fizermos teremos uma graça especial de Deus a nos ajudar.
Que o Senhor nos dê essa graça!


Maria Beatriz S. Vargas

Secretária Geral do Conselho Nacional da RCCBRASIL


 


“Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos.” Fl 2,3


HONRAR AOS OUTROS COM A NOSSA ESCUTA


Gostaria de partilhar com vocês algo que aprendi em oração, numa ocasião em que pedi ao Senhor para ser uma pessoa menos impulsiva ao falar, pois sempre me apressava a dar a minha opinião sobre tudo.


Aprendi a dar à minha escuta um novo sentido, “emprestando”, por assim dizer, meus ouvidos ao Senhor para se tornarem ouvidos de discípulo, esforçando-me para escutar mais, ser mais atenta, não me apressando em falar, fazendo do ato de ouvir um ato sagrado. Passei a exercitar a cautela, a prudência, não me apressando a dar a minha opinião sobre tudo.


Percebi que saiu um grande peso de minhas costas quando passei a dar menos importância ao fato de os outros saberem ou não o que penso sobre tudo. Passei a fazer uma espécie de silêncio em oração, orando no meu coração ao Senhor enquanto ouvia os outros falarem.


Surpreendi-me de como o meu entendimento ficou apurado, refinado através da escuta dos outros, percebia melhor as nuances das verdadeiras intenções dos outros ao falarem e, sobretudo, uma maior clareza do certo e do errado. Na minha impulsividade eu era também rápida em aderir à opinião dos outros, mas passei a submeter minha opinião ao Senhorio de Jesus.


Ao consagrar ao Senhor meus ouvidos e o meu julgamento das coisas, eu sentia como se o meu silêncio fosse uma espécie de espera na presença de Deus, até que Ele se manifestasse, dando-me clareza sobre o que falar e quando falar. Sentia que Deus agia enquanto eu orava em silêncio, iluminando meu entendimento.


Outra coisa, ainda, foi que passei a ter uma atitude mais humilde, não mais supervalorizando a minha opinião e passando a considerar que os outros também poderiam ter algo importante para dizer e que talvez o que eles tivessem a dizer se aproximasse mais da verdade do que eu poderia supor.


Passei a honrar os outros no meu coração e nos meus pensamentos e isso melhorou muito o meu relacionamento com as pessoas.


Senti a moção de partilhar isso com vocês porque provavelmente eu própria esteja precisando colocar essa prática do silêncio orante de volta na minha vida.


Que o Senhor nos ajude e continue a nos ensinar para que possamos ser cada vez mais mansos e humildes e termos assim o nosso coração em paz. 
Publicado no dia 04/01/2012 | 14:27:19
Grupo de Oração, Tesouro de Deus
“Grupo de Oração, Tesouro de Deus”
Por que temos tanta certeza de que os nossos Grupos de Oração são tão valiosos? O que nos fez chegar a essa conclusão? O próprio Senhor! E é Ele que pede que não nos afastemos de “Seu Coração”, ou seja, de nosso Grupo.


Temos usado a expressão “Grupo de Oração, Tesouro de Deus” e, provavelmente, muitos pensam que este termo partiu de nós. A verdade, porém, é que foi um termo inspirado por Deus. Estávamos, a então constituída equipe da Comissão de Formação, reunidos na casa de Marta e Maria, no Rio de Janeiro, para pensar e discernir a formação de coordenadores.


Já tínhamos a primeira parte pronta, aquela que fala da Renovação como uma graça para a Igreja, mas precisávamos dar continuidade. Durante um momento de oração e escuta diante do Santíssimo, o Senhor começou a nos falar em profecias e visualizações sobre a sua obra de amor no meio de nós através dos nossos Grupos de Oração e apareceu, como palavra inspirada, confirmada por visualização, a expressão “Grupo de Oração, Tesouro de Deus”.


Podemos dizer que a raiz da Renovação está no Grupo de Oração. Aqueles professores da Universidade de Duquesne, nos Estados Unidos, que começaram a ler o livro dos Atos dos Apóstolos e desejaram a experiência dos primeiros cristãos, ficaram sabendo que um grupo de pessoas se reunia para rezar na casa de uma senhora chamada Flo Dodge. 


Ouviram dizer que lá o Espírito Santo se manifestava com sinais e prodígios como nos primeiros tempos da Igreja cristã. Foram conferir e receberam o batismo no Espírito Santo. Esses mesmos professores organizaram, em fevereiro de 1967, o retiro de final de semana em Duquesne, onde o Espírito Santo se derramou com poder, como em Pentecostes, sobre os participantes que estavam reunidos na capela, no andar superior da casa.


Foi aí que começou a Renovação Carismática Católica. Quando saíram de lá, cheios do Espírito, eles sentiram necessidade de estarem juntos para louvar ao Senhor, ler a Palavra, partilhar suas novas e maravilhosas experiências. Passaram a se reunir semanalmente e logo as reuniões de oração multiplicaram-se, alastraram-se como fogo por outras universidades e, dentro de pouco tempo, no mundo todo.


O Grupo de Oração nos descortina a beleza das pessoas que são acolhidas por Deus, a beleza da misericórdia de Deus que se derrama sobre todos os que acreditam e se convertem. O que nos faz chegar à grandeza da misericórdia de Deus é reconhecer “Jesus Cristo é o Senhor”. O Grupo de Oração é o lugar de encontro com Jesus. O nome de Jesus abre portas.


A Renovação Carismática Católica, através dos seus Grupos, é uma porta aberta da Igreja, é a porta do acolhimento.  No Encontro Nacional de Formação para Coordenadores e Ministérios (ENF) de 2007, ocasião dos 40 anos da Renovação, recebemos uma palavra que nos fala exatamente isso:


“Eis o que diz o Santo e o Verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi – que abre e ninguém pode fechar; que fecha e ninguém pode abrir. Conheço as tuas obras: eu pus diante de ti uma porta aberta, que ninguém pode fechar; porque, apesar de tua fraqueza, guardaste a minha palavra e não renegaste o meu nome” (Ap 3,7-8).  

                                                                                           

A interpretação da palavra foi a de que os Grupos de Oração são esta porta permanentemente aberta e que nós, os participantes e servos dos Grupos, somos colunas de Deus para sustentar os fracos e abatidos. No Grupo de Oração o Senhor nos fortalece, nos restaura e nos torna imbatíveis na luta contra o mal para que possamos ser  verdadeiramente esse sustentáculo para os outros.


Em julho do mesmo ano, depois de um momento de intercessão pelos grupos, Deus nos falou em profecia confirmando a palavra que nos havia sido dada anteriormente: “Escutai povo meu, escutai meus filhos e filhas, se vocês se deixassem conduzir pela sabedoria do meu Espírito jamais se afastariam de seus Grupos de Oração.


Pois Eu quero vos revelar, com toda a minha autoridade, com toda a minha misericórdia, que o Grupo de Oração, o qual muitos de vocês têm abandonado ou desvalorizado, é nada mais que o meu coração e é no meu coração que cada um de vocês está gravado eternamente.


Por isso, Eu mesmo, o Senhor, vos declaro e vos peço: retornem depressa ao meu coração, as portas se abrem. Entrem, entrem e sejam profetas no meu coração. O meu coração se abre para vocês, e o meu coração é cada Grupo de Oração espalhado nesta nação.”


Naquele mesmo Congresso, durante um momento de oração, recebemos a seguinte visualização: havia um mapa do Brasil todo preto, mas durante a oração luzes foram se acendendo como velas. De repente, clarearam o mapa inteiro e transformaram as trevas em luz. A interpretação veio logo em seguida: essas luzes acesas são os Grupos de Oração que se multiplicavam de norte a sul para iluminar o Brasil, levar o evangelho ao nosso povo e incendiar a nossa nação com o fogo de Pentecostes.


Se analisarmos a nossa própria história, veremos que um dia alguém nos convidou para um Grupo de Oração e lá o nosso cansaço, a nossa acomodação, a nossa desilusão transformaram-se em esperança, fé expectante, alegria interior.


Nossa vida foi tocada pela bondade, pelo amor, pela misericórdia de Deus. Nós tivemos um encontro pessoal com Jesus Cristo. Depois desse dia, a nossa vida nunca mais foi a mesma, porque, ao encontrar Jesus “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”( cfRm 5, 5).


Que o sentimento de nossa alma seja o mesmo dos primeiros apóstolos: “Não podemos deixar de falar das coisa que vimos e ouvimos” (At 4,20). Que o nosso desejo seja trazer homens, mulheres, jovens e crianças para os nossos Grupos de Oração a fim de que eles sejam batizados no Espírito Santo como nós fomos e possam fazer parte dessa imensa fileira de pessoas que desejam implantar a Cultura de Pentecostes na cultura da morte que predomina no nosso mundo.


Outro termo que temos usado é ”Grupo de Oração, Estratégia de Deus”, estratégia para atrair-nos ao seu coração misericordioso no qual nós somos curados, restaurados e então transformados em discípulos e missionários seus para testemunhar ao mundo que sofre.


No ENF do ano de 2011, foi lançado um desafio aos Grupos de Oração do Brasil: que os Grupos de Oração se tornem missionários, que saiam para as praças e visitem as casas falando do amor de Deus, da salvação em Jesus Cristo e da santificação no Espírito Santo, a fim de que todos se conscientizem da sua dignidade de filhos e filhas de Deus, e passem a viver à altura de sua condição.


Este apelo encontra eco numa outra profecia sobre Grupo de Oração que vem com promessas de grande poder do Espírito para todos nós: “Eu derramo sobre vós uma nova unção do meu Espírito. Eu vos liberto do desânimo, da frieza espiritual e lhes dou uma nova unção do meu Espírito.


Eu faço arder em vossos corações o espírito missionário. Eu renovo a alegria e o amor em vossos Grupos de Oração e vos chamo para um tempo novo. Portas de missão se abrirão para vós, desde que sejais dóceis ao meu Espírito. Eu inauguro no meio de vós, a partir deste momento, um tempo novo, um tempo de bênçãos, um tempo de graça, onde o meu Espírito se moverá com poder para renovar a face da terra.”


Assim seja!


Maria Beatriz Spier VargasSecretária-Geral do Conselho Nacional da RCCBRASIL


























Entrevista com Padre Gabriel Amort - Presidente da Associação Internacional dos Exorcistas

 







Pe. Gabriele Amorth, famoso exorcista
Exorcista da diocese de Roma: alerta quanto ao importante avanço do demônio




            Revmo. Pe. Gabriele Amorth, da Pia Sociedade de São Paulo, muito apreciado na Itália por seus livros sobre Nossa Senhora e sua atividade jornalística - seu programa na Radio Maria peninsular conta com 1.700.000 ouvintes -, tornou-se mundialmente conhecido com o lançamento de sua obra Um exorcista conta-nos, em 1990.
Tal obra alcançou notável êxito editorial na Itália, tendo sua tradução portuguesa obtido várias edições. A partir de então, a mídia internacional vem focalizando a atuação desse sacerdote, nomeado Presidente da Associação Internacional dos Exorcistas.


            Solicitadíssimo por inúmeras pessoas necessitadas de amparo contra as insídias diabólicas, o Pe. Amorth exerce intenso e extenuante trabalho apostólico. Mesmo assim, marcou um horário para receber nosso enviado especial, Sr. Nestor Fonseca, a quem acolheu amavelmente, juntamente com o fotógrafo, Sr. Kenneth Drake, na Casa-Mãe da Pia Sociedade de São Paulo, na Cidade Eterna, no dia 26 de junho último. E durante aproximadamente duas horas foi respondendo, com a segurança de um zeloso e experimentado exorcista, às múltiplas e complexas questões que lhe foram sendo apresentadas. Abaixo transcrevemos partes da substanciosa entrevista.
*    *    *


Catolicismo Todas as pessoas sofrem as insídias e as tentações diabólicas, acontecendo de uma mesma tentação voltar  a se repetir muitas vezes. Podemos dizer que tal tentação torna-se um estado de perseguição do demônio?




Pe. Amorth - Devemos distinguir a ação ordinária da ação extraordinária do demônio. A ação ordinária é a de tentar-nos. Por conseguinte, todo o campo das tentações pertence à ação ordinária diabólica à qual todos somos sujeitos e o seremos até a morte.



A tal ponto somos sujeitos a essas tentações, que Jesus Cristo, fazendo-se Homem, aceitou ser tentado por Satanás, não apenas nas três tentações do deserto, mas durante toda a sua vida, como também ocorreu com Maria Santíssima. Isto porque a tentação faz parte da condição humana. Esta é a ação ordinária do demônio, como dizia o Catecismo de São Pio X, “por ódio a Deus, [o demônio]tenta o homem ao mal”. Ou seja, por ódio a Deus, o demônio gostaria de arrastar-nos todos para o inferno.

A ação extraordinária, por sua vez, é uma ação rara. É aquela na qual o demônio causa distúrbios particulares. Portanto, não se trata de simples tentação. Distúrbios particulares que podem chegar  à possessão diabólica.


Catolicismo  -  Que tipos de distúrbios podem ocorrer? V. Revma. poderia classificá-los e, ao mesmo tempo, dar as razões da existência de tais distúrbios?


Pe. Amorth - Não existem dois casos iguais. Já fiz mais de 40 mil exorcismos. Entendamo-nos. Não a 40 mil pessoas, pois em muitas delas eu fiz centenas e centenas de exorcismos. Pois livrar uma pessoa do demônio, geralmente, constitui um trabalho MUITO lento.
Como escrevi em meu livro Um exorcista conta-nos, fico bastante contente quando uma pessoa se livra do demônio, após quatro ou cinco anos de exorcismos, com a média de um exorcismo por semana. Conheço pessoas que ficaram livres do demônio após 12 ou 14 anos de exorcismos seguidos. Portanto, muitos exorcismos feitos à mesma pessoa.
Uma pessoa pode levar vida normal com sofrimentos, de maneira que aqueles com os quais convive nem se dêem conta de que está possessa. Apenas quando sobrevêm os momentos de crise, então ela se comporta de uma maneira inteiramente anormal, não podendo cumprir seus deveres de trabalho, de família, sem excessiva dificuldade. Em alguns casos, a pessoa pode ser assaltada pelo demônio, digamos, 24 horas ao dia. Em tal caso, a pessoa não pode fazer nada. Mas são casos raríssimos.
Normalmente o demônio apenas em certos momentos investe contra a pessoa e se manifesta, sobretudo quando é obrigado a fazê-lo durante o exorcismo.


Catolicismo  - E qual é a causa para que o demônio permaneça mais ou menos tempo na mesma pessoa?




Pe. Amorth - A expulsão do demônio depende de uma intervenção extraordinária de Deus. Ou seja, cada expulsão do demônio constitui um verdadeiro milagre. E Deus pode praticá-lo a qualquer momento. Nós, exorcistas, podemos prever, através de algo que nos oriente, quanto tempo ser-nos-á necessário para expulsar o demônio de uma pessoa.



Por exemplo, uma criança. É mais fácil expulsar o diabo de uma criança que de um adulto. O mesmo passa-se em relação a uma pessoa que nos procura logo após ter sido possuída, uma vez que o demônio ainda não teve tempo de deitar raízes naquela pessoa. O primeiro exorcismo fala em “erradicar e expulsar o demônio”.

Ao contrário, torna-se muito mais difícil quando sou procurado por pessoas de 50, 60 anos, e ao fazer-lhes exorcismos falando com o demônio - pois eu falo diretamente com o demônio quando a pessoa está endemoninhada -, descubro que às vezes a pessoa era criança ou ainda se encontrava no próprio seio materno quando sofreu os primeiros ataques do Maligno.




Catolicismo -  V. Revma., há pouco, referindo-se à expulsão do demônio de um possesso, disse que ela constitui sempre uma intervenção extraordinária de Deus...


Pe. Amorth - Certo. A libertação de uma pessoa da ação do demônio constitui sempre uma intervenção extraordinária de Deus. Aliás, tenho disso um exemplo, ocorrido na semana passada. Um caso muito difícil de possessão diabólica e eu tinha razões suficientes que levavam a prever muitos anos de exorcismos para se libertar aquela alma das garras do demônio.
Acontece que tal pessoa foi ao Santuário de Lourdes, na França, tomou banho na piscina, acompanhou a procissão do Santíssimo Sacramento, rezou muito. Resultado: um milagre! Voltou para casa completamente livre da possessão.


Catolicismo  - V. Revma. poderia dar uma explicação a nossos leitores, ainda que sucinta, da necessidade do exorcismo e dos exorcistas?


Pe. Amorth - O exorcismo é constituído de várias orações oficiais feitas em nome da Igreja, e Deus ouve essas orações. Com efeito, existem tantas razões para isso! O exorcismo depende muito das causas que determinaram a possessão diabólica, uma vez que estas exercem muita influência sobre o possesso. Dou-lhe um exemplo simples.
Se uma pessoa se consagrou a Satanás e fez o pacto de sangue com ele, é fácil entender que ela praticou um ato voluntário de doação de si mesma ao Maligno. Então, libertar tal pessoa torna-se muito mais difícil, faz-se necessário muito mais tempo do que o empregado para libertar um inocente, que foi vítima de um malefício causado por outra pessoa.


Catolicismo - Pelo que V. Revma. afirmou acima, o exorcismo não constitui o único modo de uma pessoa fazer cessar a possessão. Haveria outras?  Porque com a atual dificuldade em encontrar exorcistas…


Pe. Amorth - Pode-se libertar da possessão com o exorcismo, que é uma oração oficial da Igreja, mas reservada aos exorcistas - pouquíssimos, quase inencontráveis. Outra forma, aberta a todos,  são as orações de libertação. No final de meus livros eu acrescento orações de libertação que sugiro. As orações mais eficazes são as de louvor, glória a Deus. Assim nós também muitas vezes, nos próprios exorcismos, recitamos o Credo, o Glória, o Magnificat, Salmos, trechos da Bíblia, o Evangelho em que Jesus liberta os endemoninhados. Elas têm grande eficácia.




Catolicismo - Os demônios têm nomes?




Pe. Amorth - Quando constringidos pelo exorcista a dizer seus nomes, costumam apresentá-los. Os que têm nomes bíblicos ou de tradição bíblica, são demônios fortes e é muito mais trabalhoso exorcizá-los. Continuamente dão nomes como Satanás, Asmodeu, Lilite, denominações igualmente importantes.



O nome Lúcifer é de tradição bíblica e não um nome bíblico. Ou seja, nós o atribuímos à Bíblia, mas esta não cita Lúcifer. Encontramos freqüentemente um demônio de nome Zabulom. O nome Zabulom, encontramo-lo na Bíblia, mas nunca como demônio. Zabulom é uma das 12 tribos de Israel. Há um demônio, porém, que tomou posse desse nome e é um demônio fortíssimo.

Encontramos nas Sagradas Escrituras o demônio Asmodeu. Deparo-me muitíssimas vezes com ele, porque é o demônio que destrói  os casamentos. Ele rompe os matrimônios ou os impede. É tremendo!  
            Uma pessoa possuída ou possessa, in genere, pode estar dominada por muitos demônios. Temos um exemplo no Evangelho, quando Nosso Senhor interroga os endemoninhados de Gerasara e  pergunta: “Como te chamas?” E o demônio responde: “legião”, porque são muitos.
            Lembro o caso de um demônio fortíssimo que possuía uma freira, uma possessão tremenda (às vezes, são vítimas que se oferecem pela conversão dos pecadores e sofrem esta espécie de possessão). Quando eu lhe perguntava o número, respondia-me: “Milhares!” “Milhares!” “Milhares!”


Catolicismo - A TV, de um modo geral, com programas incentivadores de práticas de magia e espiritismo, bem como desagregadores das tradições cristãs e da família, têm colaborado ponderavelmente para o incremento do satanismo? E o rock satânico, tem concorrido para a disseminação do poder do demônio?


Pe. Amorth Quando foi inventada a televisão, o Padre Pio ficou furioso. E a quem lhe dizia que se tratava de uma magnífica invenção, ele respondia: “Verá que uso farão dela!” Com efeito, a TV é corrupção da juventude e igualmente dos velhos! Ouso acrescentar: é também a corrupção dos padres, dos sacerdotes e das freiras. Com os espetáculos contínuos de sexo, de horror, de violência... A Internet é ainda pior, a Internet é ainda pior, repito.
            Certa vez, ao fazer um exorcismo, falando com o demônio, ele dizia: “A televisão, fui eu que a inventei!” Eu afirmava: “Não! Tu és um mentiroso! A televisão é uma grandíssima invenção do homem. Tu inventaste o mau uso dela, a fim de corromper as pessoas”.
Todos sabemos que existe o nudismo. Todos sabemos que haverá [já houve, em Roma], dentro de alguns dias, uma manifestação de homossexuais! Uma demonstração do vício, o pecado que isso representa! Ali está, não há dúvida, a ação do demônio.
            No caso acima, existe a atividade ordinária do demônio de tentar o homem, mas também a atividade extraordinária do demônio, que se serve da ocasião para possuir as pessoas que promovem essas coisas.
            Quanto ao rock satânico, é tremendo. Pode conduzir à possessão diabólica porque ensina o culto a Satanás. E pouco a pouco, através do culto a Satanás, chega-se a ser possuído por ele. Satanás é esperto, introduz-se sem nunca fazer-se sentir. Pode-se começar com simples jogos de cartas, de tarôs, e, através dos jogos, saber se vai ganhar na loteria, adivinhar acontecimentos, doenças de amigos. E, pouco a pouco, vai-se sendo possuído pelo demônio. O diabo age assim: atua sem se fazer sentir.


Catolicismo - As doutrinas marxistas e sua aplicação concreta contribuem, de modo considerável, para a difusão do satanismo na sociedade contemporânea?




Pe. Amorth - Sim. Tenhamos presente que assim como o demônio pode possuir uma pessoa, pode igualmente possuir uma classe de pessoas, pode assumir o governo de uma nação.

            Exemplifico. Estou convicto de que Hitler, Stalin, eram possuídos pelo demônio e que o nazismo - em massa - era possuído pelo Maligno. Auschwitz, Dachau: não podem ser explicadas as atrocidades cometidas nesses lugares sem se cogitar numa perfídia verdadeiramente diabólica. E não há nenhuma dúvida de que o demônio influiu muitíssimo no mundo cultural. O demônio quer distanciar o homem de Deus.
            Por outro lado, tivemos pela primeira vez na História um fenômeno profetizado em Fátima - 1917, 13 de julho -, a aparição mais importante de Nossa Senhora em Fátima, aquela na qual encontram-se os segredos e em que Nossa Senhora fez ver o inferno.
Nessa ocasião, entre outras coisas, profetizou: “Se não obedecerem minhas palavras, a Rússia espalhará seus erros pelo mundo”. Nunca aconteceu que o povo tivesse sido instruído para o ateísmo. Em Moscou, entretanto, existia uma Universidade do ateísmo, na qual se formavam os participantes do Partido e se ensinava como atuar para destruir a religião em uma nação religiosa. Jamais, no passado da humanidade, ensinou-se o ateísmo. Foi uma novidade de nosso século, devido ao comunismo que espalhou o ateísmo por todo o mundo.


Catolicismo  - A falta de fé seria a principal e mais profunda causa do aumento do poder satânico no mundo atual?


Pe. Amorth - Sempre. É matemático. Examinando toda a história do Antigo Testamento, a história de Israel, quando esta abandona Deus, entrega-se à idolatria. É matemático, quando se abandona a Fé, entregamo-nos à superstição. Isto aplica-se, em nossos dias, a todos nós do mundo ocidental. 
            Tomem as velhas nações da Cristandade medieval. A católica Itália, a França, a Espanha, a Áustria, a Irlanda, que uma vez foram nações cujo catolicismo era forte. Agora o catolicismo tornou-se fraquíssimo. Na Itália, de 12 a 14 milhões de italianos freqüentam atualmente sessões de bruxaria e cartomantes. Há no país aproximadamente 65.000 bruxos e cartomantes, muito mais que o número de sacerdotes.
Existem também na Itália de 600 a 700 seitas satânicas. E 37% da juventude italiana participaram algumas vezes de sessões espíritas, acreditando ser um mero jogo...
            Um movimento dirigido por um sacerdote ensina aos pais como falar com seus filhos falecidos... Isto é espiritismo puro. Em outros tempos o espiritismo exercia-se através de um médium em estado de transe, e o médium evocava a pessoa.
O espiritismo consiste em evocar um defunto para interrogá-lo e obter dele respostas. Agora não é mais necessária a presença do médium, pois pratica-se o espiritismo através do gravador, do televisor e da Internet... Os dois meios mais usados são gravadores e escritura automática. A página mais lida dos jornais é o horóscopo... e os quotidianos não são comprados pelos analfabetos. São os industriais, os políticos, que não tomam decisões sem antes ouvir um bruxo. Ou seja, sempre que diminui a Fé, aumenta a superstição.
            Por exemplo, faz-se um referendum na Itália para a defesa da família, vence o divórcio; faz-se um referendum em defesa da vida, vence o aborto. E isto na católicaItália... Não nos espantemos, Satanás é poderoso. Nosso Senhor o chama por duas vezes“Príncipe deste Mundo”.  São Paulo o chama “Deus deste mundo”. São João diz:“Todo mundo jaz sob o poder do Maligno”.
E quando o demônio tenta Nosso Senhor, leva-O ao alto do monte, fá-Lo ver os reinos da Terra, e diz: “São meus, e os dou a quem quero e se tu te ajoelhares diante de mim...” . Jesus não lhe responde: “Tu és um mentiroso, todos os reinos são de meu Pai. É Ele quem dá a quem quiser”. Não, não. A Escritura diz: “Tu ajoelhar-te-ás somente ante teu Deus”. Nosso Senhor não contradiz o demônio.
            Hoje tantos ajoelham-se diante de Satanás para obter sucesso, prazer, riquezas - as três grandes paixões do homem! E o demônio oferece o sucesso, o prazer, a riqueza, mas sempre unidos a terríveis sofrimentos.  Vemos o sucesso, vemos o dinheiro. Imaginamos que aquela pessoa é feliz. Não é verdade, pois o demônio só pode praticar o mal. Por conseguinte, as pessoas que se entregam ao demônio têm o inferno nesta vida e na outra. Aqui um inferno dourado, mascarado de sucesso, e depois... o fogo eterno!


Catolicismo -  Qual a influência do chamado progressismo católico nessa decadência da virtude teologal da fé?


Pe. Amorth -  Hoje, infelizmente, existem teólogos e exegetas que negam até mesmo os exorcismos de Nosso Senhor. No meu último livro - Exorcismos e Psiquiatras - dedico um  capítulo aos exorcistas franceses; apenas cinco de um total de 105 crêem e fazem exorcismos, os outros... não crêem neles. Em um de seus congressos, convidaram para falar exegetas que negam os exorcismos de Nosso Senhor. Afirmam eles tratar-se de uma linguagem apenas cultural e que o Redentor adaptava-se à mentalidade da época, mas que, na verdade, aquelas pessoas eram apenas loucas e não possessas.
            Essas prédicas de exegetas influíram nos espíritos dos Bispos, dos padres etc.


Catolicismo - Quais as razões que levam Bispos católicos a se desinteressarem inteiramente da temática demônio, abandonando assim os fiéis à ação preternatural, crescente nos dias atuais?




Pe. Amorth  -- Não há razão para se impressionar com minha resposta. No Evangelho, Nosso Senhor diz: “O demônio é fortíssimo”. Isto está muito claro. É fortíssimo e conseguiu, com sua habilidade, fazer-nos crer que [ele] não existe, coisa que mais lhe agrada. Porque pôde realizar isso nestes séculos - pois já faz três séculos que faltam exorcistas. E isso explica meu combate aos Bispos, aos padres que não crêem na ação do demônio. Eu os critico fortemente.

            Julgo que 90% dos padres e dos Bispos não crêem na ação extraordinária do demônio. Talvez existam alguns! TALVEZ, TALVEZ. No Concílio Vaticano II, alguns Bispos já afirmavam que não existia!...  Durante o Concílio, hein! Diante da Assembléia Conciliar! Repito: tenho por certo que 90% dos Bispos e sacerdotes não crêem na ação extraordinária do demônio.




            Razão pela qual há três séculos, na Igreja latina, verifica-se uma escassez espantosa de exorcistas. Na Alemanha, nenhum! Na Áustria, nenhum! Na Suíça, nenhum! Na Espanha, nenhum! Em Portugal, nenhum! Quando eu digo “nenhum”, não estou afirmando que não existam um, dois, mas de tal maneira não são encontrados, que os considero como inexistentes.
Em uma cidade européia, importante centro de peregrinação, temos uma livraria Paulina.  Quando lá estive, dei-me conta, através de um livreiro amigo, que dispunham de meu livro na livraria, mas escondido. “Os Bispos disseram-nos para tê-lo escondido, e não expô-lo! De não expô-lo!”
            Por outro lado, há muitos Bispos que não nomearam exorcistas. Um Prelado famoso - o Cardeal Todini, que foi Arcebispo de Ravena -, numa transmissão televisiva jactou-se de nunca ter nomeado exorcistas! Esta, infelizmente, é a situação na qual nos encontramos.
Catolicismo - V. Revma. baseia-se em alguma escola espiritual, em algum Santo, para tomar uma posição tão louvável quanto destemida?


Pe. Amorth - Eu procuro seguir a linha iniciada por um santo espanhol, o Beato Francisco Palau, carmelitano, que já em 1870 veio a Roma falar sobre o exorcismo com o Papa Pio IX. Voltou depois a Roma durante as sessões do Concílio Vaticano I, para que se tratasse da necessidade de exorcistas. Com a interrupção daquele Concílio em razão da tomada de Roma, o assunto sequer foi levantado.




Catolicismo - Pe. Amorth, que conselho V. Revma. poderia dar-nos  e a  nossos caros leitores para nos precavermos contra eventuais malefícios (macumbas, por exemplo) que se queiram fazer para nos prejudicar?


Pe. Amorth - O conselho número um consiste em ter fé. Depois, viver na graça de Deus. Se se vive em estado de graça,  está-se protegido, é mais difícil que a macumba nos atinja. Porém, se se é realmente atingido, é necessário recorrer-se aos exorcismos, a muitas orações, a muitos sacramentos e, com a graça de Deus, se é libertado. Mas pode ser que Deus permita que se continue no estado de possessão, para o bem espiritual da própria pessoa. Assim, São João Crisóstomo afirma que o demônio, malgrado ele próprio, é o grande santificador das almas…