quarta-feira, 20 de junho de 2012

Deus me livre dos deuses






“ Ali foi posto à prova pelo diabo,

durante quarenta dias” (Lc 4, 1 )








A descrição  de 
São  Lucas  nos 
mostra  a  tentação 
do


demônio,  da 
qual  nem  o 
Filho  de  Deus 
estava  livre.  O


demônio tentou desmoronar o plano
de Deus. Três


tentativas e três negativas.





Jesus não se entrega às insídias
do


diabo. Por mais tentadoras, as
propostas  do demônio não



convenceram.  Estava  exausto, 
com  fome,  cansado.


Poderia ter colocado tudo a
perder e, no entanto,


colocouse acima de tudo. Não se
deixou vencer.


 Afastou o demônio com  determinação 
e  coragem: 





“Não  porás 
à  prova  o


Senhor teu Deus!” (Lc 4,12).


A tríplice tentação de Jesus,
caracterizada pela tentação


do ter, do poder e do prazer, nos
revela a raiz de toda a


tentação. Somos tentados a ter, a
mandar e a gozar os


prazeres  deste 
mundo.  O  consumismo, 
tentação  do


momento, nos leva à busca do ter
sempre mais, a amontoar


riquezas e a nos transformar em
donos.





O poder, conseqüência  do 
ter,  nos  insinua 
que  tendo,  podemos.  


E  a tentação do prazer, nos
convence de que tendo, podemos e, por isso, devemos.





O deus do ter: o dinheiro. O
sacrário? o cofre do banco.


Lembro-me  da 
história  de  uma 
mulher  que,  no 
dia  de


finados, quando todos iam ao
cemitério, foi acender uma


vela na porta do Banco. Aos que
passavam, ela dizia: “meu


marido está enterrado aqui !”.





E o caso de uma outra que,


ao entrar no supermercado, fazia
o nome do Pai, quem


sabe para se livrar da tentação
de comprar o supérfluo.


Henry  Fielding, 
dramaturgo  inglês,  dizia: 
“Se  fizeres  do


dinheiro o teu deus, ele te
atormentará como o demônio”.





E Vitor  Hugo, 
escritor  de  'Os 
miseráveis'  tinha  razão 
ao


afirmar: “Dinheiro é bom, mas
certifique-se sempre quem é


dono de quem”.





O deus do poder: personificado no
trono e no cetro, o


poder é um deus vingativo. Usa e
abusa das coisas e das


pessoas. Manda e desmanda.
Recordo-me de uma frase


famosa  de 
Abraham  Lincoln,  Presidente 
dos  Estados


Unidos: “Se quiser por à prova o
caráter de um homem, dê-


lhe poder”.






deus  do  prazer: 
eros.  O  mundo 
tá  ficando  erótico.


Alguns, talvez exagerando, dizem
que estamos vivendo no


sexo XXI. Fizeram do erotismo uma
indústria. Altamente


compensadora,  na 
lógica  de  mercado, 
e  terrivelmente


destruidora no campo da moral e
dos princípios éticos.





O poeta e escritor argentino
Jorge Luis Borges dizia:


“Apaixonar-se  é 
criar  uma  religião 
que  tem  um 
deus


falível”.





Eis o temível e terrível tridente
de Netuno: o ter, o poder e


o prazer. Que Deus me livre
desses deuses.  Amém!







Dom Paulo Sérgio Machado


Bispo Diocesano


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